Saltar para o conteúdo principal

4 Cientistas Portuguesas recebem Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência

Medalhas Loreal 2023

A 19ª edição das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência distingue mais quatro cientistas portuguesas, numa cerimónia de entrega das medalhas no dia 10 de maio, no Ciência Viva – Pavilhão do Conhecimento.

Investigação sobre dispositivos cardíacos, diabetes tipo 2, glaucoma e recuperação de solo degradado são os temas abordados pelos quatro projetos científicos galardoados e desenvolvidos, respetivamente por Andreia Trindade Pereira (i3S – Universidade do Porto), Joana Sacramento (Nova Medical School – Universidade Nova de Lisboa), Raquel Boia (iCBR – Universidade de Coimbra); e Sara Peixoto (Universidade de Aveiro).

As investigadoras, doutoradas e com idades entre os 31 e os 35 anos, foram selecionadas por um júri científico, presidido por Alexandre Quintanilha, e vão receber um prémio individual de 15 mil euros. No total serão entregues 60 mil euros para apoiar os projetos de investigação e pesquisa de jovens doutoradas.

Em Portugal já foram distinguidas 65 jovens investigadoras com as Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência. A primeira edição desta iniciativa em Portugal surgiu em 2004, sendo inspirada no programa L’Oréal-UNESCO For Women em Science, um apoio da L´Oréal às mulheres da ciência em parceria com a UNESCO, que decorre desde 1998.

Desde a sua origem, o programa Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência junta a L’Oréal Portugal, a Comissão Nacional da UNESCO e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) no apoio a jovens investigadoras.

 

Projetos vencedores da 19ª edição das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência:

Andreia Trindade Pereira

31 anos

i3S – Instituto de investigação e Inovação em Saúde, Universidade do Porto

Projeto “BloodStream2Power – Exploring blood stream to generate energy for cardiac electrical devices”

O projeto propõe utilizar a energia mecânica produzida pelo organismo humano como fonte alternativa e inesgotável para alimentar os dispositivos cardíacos eletrónicos implantáveis, como os pacemakers por exemplo, que usam atualmente baterias convencionais, com tempo de vida limitado, necessitando de ser substituídas em cirurgias que acarretam elevado risco para os doentes. A forma de converter energia mecânica em energia elétrica assenta no princípio da eletricidade estática produzida por fricção (também chamada de triboeletricidade), num efeito que Andreia compara ao da “fricção de um lápis numa camisola de lã ou das nossas mãos num balão”.

 

Joana Sacramento

35 anos

NOVA Medical School, Universidade Nova de Lisboa

Projeto “Closed-loop electroceutical targeting of carotid sinus nerve to treat type 2 diabetes”

Esta investigação explora uma área médica emergente, a da medicina bioelectrónica, e pretende usar o seu potencial de modulação da atividade elétrica do organismo humano para alterar seletivamente a atividade do corpo carotídeo, um pequeno órgão que se localiza no pescoço e que, em trabalhos anteriores, já se comprovou estar envolvido no desenvolvimento da diabetes tipo 2. “Observámos que, quando cortamos a ligação do corpo carotídeo ao cérebro, através do corte do nervo do seio carotídeo, é possível reverter a diabetes tipo 2”, refere Joana Sacramento. No entanto, esta abordagem não pode ser realizada em humanos, pois o corpo carotídeo tem várias outras funções essenciais ao nosso organismo, como por exemplo o controlo dos níveis de oxigénio no sangue. Em alternativa, Joana e a equipa na qual está inserida comprovaram que a modulação elétrica da atividade do nervo do seio carotídeo, em vez do seu corte, também consegue reverter a diabetes tipo 2.

 

Raquel Boia

34 anos

Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR), Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e VectorB2B – drug development

Projeto “A new therapeutic approach to leverage vision restoration in glaucoma”

O glaucoma é uma das principais causas de perda de visão e cegueira no mundo e caracteriza-se pela perda substancial de células ganglionares da retina e por danos no nervo ótico, constituído pelos prolongamentos das células, os axónios, que transmitem a informação visual ao cérebro. Com este projeto de investigação pretende-se saber se é possível regenerar os axónios das células ganglionares da retina e reintegrá-los corretamente no sistema visual para promover a recuperação da visão. “Já identificámos que a ativação de um recetor presente nas células ganglionares da retina é capaz de lhes conferir proteção”, explica a investigadora Raquel Boia, que vai agora avaliar se este recetor – o A3 de adenosina – consegue promover a regeneração dos axónios destas células e integrá-los de novo no sistema visual, para que o nervo ótico volte a ter capacidade para transmitir a informação visual ao cérebro.

 

Sara Peixoto

32 anos

Universidade de Aveiro

Projeto “MicroStimulus – The ecological role of microbial-based plant biostimulants in the resident rhizosphere microbiome from degraded agricultural and forest soils”

Com esta investigação, Sara Peixoto quer compreender qual o efeito ecológico da aplicação de bioestimulantes na recuperação de solos degradados e perceber se estes produtos podem apoiar a recuperação funcional de solos afetados pelo uso agrícola intensivo e pelos fogos florestais. Para o efeito, vai analisar qual o papel que as diferentes formulações de bioestimulantes à base de micro-organismos desempenham junto das comunidades de micro-organismos que estão naturalmente presentes no solo (microbioma do solo), especificamente na zona em que o solo e as raízes das plantas se contactam (na rizosfera).

De forma geral, os bioestimulantes facilitam a disponibilidade de nutrientes no solo (ajudam, por exemplo, a fixar azoto ou a tornar o fósforo solúvel), melhorando a sua fertilidade e as condições favoráveis ao crescimento e produtividade das plantas, assim como a sua tolerância a pressões ambientais.