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Descoberta a forma como o cérebro comanda a degradação da gordura

A hormona leptina atua no cérebro, regulando a ingestão de alimento e a quantidade de massa gorda: níveis baixos de leptina aumentam o apetite e diminuem o metabolismo basal, enquanto que níveis altos de leptina reduzem o apetite e promovem a degradação de gordura. Este efeito da leptina é conhecido há 20 anos, mas apenas agora, num estudo parcialmente financiado pela FCT, se descobriu a forma como o cérebro sinaliza de volta ao tecido adiposo, e despoleta a degradação da gordura.

Na última edição da prestigiada revista Cell, as equipas lideradas por Ana Domingos, do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e por Jeffrey Friedman, da Universidade Rockefeller (Nova Iorque), mostram, de forma elegante, que a ação da leptina no cérebro leva à estimulação de células nervosas que encapsulam células adiposas, ativando uma série de reações nestas, levando à degradação da gordura. Estes resultados sugerem que a ativação direta das células nervosas no tecido adiposo poderá ser uma caminho alternativo para induzir a perda de gordura, particularmente em pessoas que tenham desenvolvido resistência à leptina.

O primeiro passo foi determinar se o tecido adiposo é sequer inervado. Recorrendo a técnicas de imagiologia muito sensíveis, os investigadores descobriram que as células adiposas de ratinho são inervadas por células do chamado sistema nervoso simpático. As equipas mostraram depois que quando as terminações destas células nervosas são estimuladas diretamente, libertam um neurotransmissor chamado nor-adrenalina, que despoleta uma cascata de reações nas células adiposas, culminando na degradação da gordura e subsequente perda de massa gorda. Na ausência destas células nervosas, ou da moléculas da cascata química, quer nas células nervosas quer nas adiposas, a leptina não consegue atuar.  

Quando o efeito da leptina na ingestão de alimentos foi descoberto, tudo indicava que se tinha descoberto um novo tratamento para a obesidade. Porém, veio a verificar-se, mais tarde, que em muitos casos, os cérebros de pessoas obesas não responde à mensagem de saciedade da leptina produzida no seu tecido adiposo; o corpo continua a pedir alimento, e a gordura em excesso não é degradada. Os resultados agora obtidos acrescentam assim uma peça importante ao puzzle da leptina, e abrem novos caminhos na procura de tratamentos para a resistência à leptina.

Este trabalho foi financiado pela FCT, a European Molecular Biology Organisation (EMBO) e a JPB Foundation. O IGC é uma unidade de I&D finaicada pela FCT, tendo obtido a classificaçãoo de Excecional na última avaliação (2013/2014). 

Créditos imagem: : Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC)