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Missão da ESA para estudar “lado escuro” do Universo passa importante teste

Em 2020 a Agência Espacial Europeia (ESA) lançará a missão Euclid, com a ambição de rastrear as formas e as posições de 2 biliões de galáxias, abrangendo mais de um terço do céu. A missão Euclid permitirá conhecer as propriedades da matéria e da energia escura, e assim melhor compreender a formação e a evolução do Universo. Na semana passada deu-se o primeiro passo para tornar esta ambiciosa missão uma realidade, com a aprovação do chamado Preliminary Design Review (Revisão do Projeto Preliminar), na qual participaram investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA). Com esta aprovação existe confiança na capacidade da nave e dos instrumentos que serão construídos, podendo avançar-se para o passo seguinte – da “cortar metal”, nas palavras da ESA.

O trabalho da equipa do IA consistiu “na entrega de um plano completo de observação para os seis anos de duração da missão, demonstrando que é realmente possível rastrear mais de um terço do céu, com a qualidade necessária para se atingir os objetivos científicos da missão”, descreve Ismael Tereno, coordenador da equipa. O teste demonstrou  que o desempenho combinado da nave, do telescópio e dos instrumentos permitirão obter a quantidade massiva de dados necessários às metas científicas da missão.

 António da Silva, membro da direção do consórcio Euclid e coordenador nacional, comentou: “Esta contribuição faz parte das responsabilidades técnicas de Portugal no consórcio, e permite que cientistas nacionais possam participar na exploração dos dados desta importante missão durante o seu período proprietário”. Acrescenta ainda que “O mérito do trabalho da equipa foi reconhecido pelo consórcio, o que dá conta da excelência e elevado nível de internacionalização da ciência que se faz em Portugal nesta área”.

Portugal aderiu ao consórcio Euclid em 2012, através de um acordo multilateral assinado pela FCT, em representação de Portugal. A FCT é membro do Steering Committee do consórcio, que conta hoje com cientistas de 14 países europeus (Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Finlândia, Alemanha, Itália, Holanda, Noruéga, Portugal, Roménia, Espanha, Suíça e o Reino Unido) bem como vários cientistas dos EUA, incluindo 40 nomeados pela NASA. A participação portuguesa conta com 20 cientistas, de diferentes instituições, coordenados pelo IA.

Sabe-se hoje que a matéria e a energia escuras constituem grande parte da matéria e energia que existe no Universo. De facto, os átomos normais correspondem a menos de 5% da matéria do Universo. Este “lado escuro” não é, no entanto, visível; a sua presença é inferida.  A matéria escura é inferida a partir de medições de alinhamentos nas orientações de galáxias distantes. Já a energia escura explica a velocidade de expansão do Universo, medida pela distribuição das galáxias no espaço.  Ao permitir rastrear mais de 2 mil milhões de galáxias, com uma precisão singular, a missão Euclid permitirá a astrónomos compreender as propriedades e o comportamento da matéria e energia escuras, bem como estudar o mistério da expansão recente do Universo.

A missão Euclid foi proposta à ESA em 2007, foi selecionada como a segunda missão de classe média da agência em 2011, e formalmente adoptada em 2012 (ano da adesão de Portugal ao consórcio). A missão tem lançamento previsto para dezembro 2020, do espaço-porto europeu em Kourou, na Guiana francesa, a bordo de um foguetão russo Soyuz. Irá descrever uma órbita a cerca de 1,5 milhões de quilómetros de distância da Terra. Com o teste da Preliminary Design Review ultrapassado, o próximo teste será daqui a 2 anos – o chamado Critical Design Review – depois do qual, se tudo correr bem, a nave Euclid será montada.

Os quatro investigadores do IA, membros do Euclid Sky Survey Working Group (ESSWG), são: António da Silva  (IA e Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa – FCUL) , Ismael Tereno (IA e FCUL), João Dinis (IA e FCUL) e Carla Sofia Carvalho (IA).

Imagens, de cima para baixo:

  • O céu coberto pela missão Euclid.
  • Ilustração do satélite Euclid

(Créditos: ESSWG, IA e ESA)